A Infinita Escrita foi contratada para fazer a assessoria de imprensa do lançamento da sala da atendimento do movimento Psicólogos Sem Fronteiras em Londrina. A pauta era muito convidativa e iniciamos o trabalho numa reunião online com a equipe do PSF, que era totalmente desconhecida para nós.
No dia da reunião, eu já tinha um compromisso prévio: recall de uma peça do meu novo velho carro. Não poderia desmarcar porque isso implicaria em ficar sem seguro por mais tempo e nessas horas, melhor prevenir do que remediar. Deixei o carro na concessionária, corri no posto ao lado para comprar um fone de ouvido e sentei na cafeteria do supermercado para acompanhar a reunião. Mas nada do que eu pensei deu certo: além de queimar a garganta com um cappuccino quente, a reunião atrasou e iria coincidir com a hora de buscar o carro. Eu perderia a conversa e boiaria na pauta.
Conformada, peguei o carro no horário combinado e corri para casa, torcendo para pegar o final da reunião. Mas o atraso foi maior do que eu esperava e consegui acompanhar toda a conversa e conhecer um pouco do meu primeiro projeto de assessoria de imprensa em muitos anos.
Informações na cabeça, escrevi o release, que a Carol editou e encaminhou para o mailing previamente construído por ela, expert em assessorar todo tipo de projeto interessante, além de empresas de importância internacional.
E seguimos a divulgação, que foi um sucesso. Texto Infinita nos principais portais da cidade. Outro desafio era convencer as emissoras de TV a cobrirem a pauta no dia do lançamento. Mais um sucesso: duas TVs no dia da festa e uma pauta exclusiva para a Globo local, que eu tive o prazer de acompanhar.
Foi minha primeira experiência como assessora de imprensa acompanhando uma reportagem. Confesso que o atraso da equipe me deixou mais à vontade para revisar as falas com as assessoradas e combinar o local de gravação que melhor entregaria a mensagem de democratização da saúde mental.
Foi uma manhã repleta de simpatia, informação e superação de desafios. Os meus, em organizar da maneira mais confortável para todo mundo, sem comprometer a mensagem, e o das meninas do PSF, que enfrentaram bravamente a falta de intimidade com a câmera. Elas seguiram enfrentando as câmeras e qual não foi a minha alegria quando a Gabi, assessora de comunicação do PSF, me contou que a Rosa, a psicóloga que vai atuar no atendimento no Jardim União da Vitória, era um orgulho só de ver sua história ser contada na TV. Aí eu pensei: um release nunca é só um release!
O trabalho de assessoria seguiu com a cerimônia de lançamento da sala de atendimento e a gravação de um vídeo institucional para o PSF. Tempo seco, calor, nervosismo, alegria, orgulho, vontade: tudo junto e misturado e mais um passo dado na entrega do trabalho, que terminou poucos dias depois, quando acompanhamos a reunião técnica do grupo de voluntários do PSF, que partiu em missão para o Rio Grande do Sul.
Nesta etapa, já conhecíamos mais a fundo o movimento e nos sentimos em casa, com direito a tomar café com os psicólogos e dar pitaco na construção do texto da missão. Ver algo ser construído em tempo real é um privilégio de comunicador.
Textos estão em toda parte: nas reportagens, na assessoria de imprensa, nos blogs…
Naquele momento, lembrei de um projeto muito querido que eu e a Carol realizamos juntas no início dos anos 2010, na Zona Leste de Londrina. Quem se lembra do Galera da Deus?
Eu havia escrito uma matéria para a Folha de Londrina sobre esse projeto que resgatava crianças em situação de vulnerabilidade e ofertava contraturno escolar numa casa alugada lá na Rua Santa Terezinha e fui escolhida pelos idealizadores como “assessora de imprensa” sem nem me dar conta.
A Carol era minha companheira de ilha na redação e acompanhou a saga. E como moradora do bairro, sugeriu que montássemos uma biblioteca infantil e fizéssemos uma sessão de contação de histórias toda semana no projeto.
Convocamos nossos amigos jornalistas e não jornalistas e enchemos uma sala de livros e gibis que, no final, vivia bagunçada porque as crianças adoravam ficar lá. E uma tarde por semana a gente contava histórias para elas.
Na verdade, a Carol contava e eu acompanhava. Foram poucas as vezes que me arrisquei a tomar a palavra porque sempre fui muito tímida. Então, enquanto a Carol dava voz aos personagens, eu contava a nossa história com o Galera de Deus em um blog, que virou uma espécie de diário, onde eu compartilhava tudo o que acontecia no projeto.
Das idas ao cinema às festas de aniversário ao jogo do Londrina e as campanhas de material escolar: tudo era contado em pequenos textos que hoje eu vejo que já carregavam a minha vontade de exercer a escrita afetiva.
Paralelamente a isso, a Carol, comunicadora por vocação, escrevia releases de campanhas de doação e compartilhava com seu mailing, exercendo sim uma verdadeira assessoria de imprensa voluntária.
Como tudo na vida é cíclico, nossos dias como contadoras de histórias para a galerinha de Deus acabaram. Mas vez ou outra a gente lembra dos rostos daqueles pequenos sonhadores. Eles compartilhavam suas histórias tristes sempre sorrindo, se é que isso é possível.
Nunca mais vimos o Marcelo nem a Maria Luíza. Mas o impacto deles em nossas vidas foi tamanho que nós duas imediatamente lembramos dos dias naquele quintalzão da Rua Santa Terezinha quando finalizamos nosso trabalho para os Psicólogos Sem Fronteiras.
Como a Carol bem resumiu: o que nós oferecemos de melhor, seja num voluntariado ou no dia a dia de trabalho, é a observação da realidade, materializada num texto afetivo que muda vidas.
(Por Mariana Guerin)